AMOR AO PRÓXIMO É
COMUNISMO?
Primeira constatação:
O Povo Brasileiro é muito religioso. Cada segunda rua tem nome de santo. Em
cada esquina ouvimos aleluias. Jogadores entram em campo com o sinal da cruz. E
o nosso linguajar invoca Deus a cada instante: Meu Deus! Graças a Deus! Por
Amor de Deus! Deus te Abençoe! Deus é grande! Deus no Comando! Portanto, não
falta religião no Brasil e nem falta fé em
Deus.
Segunda constatação:
Todos e todas concordamos que a Fé em Deus tem uma consequência ética. Para
cristãos e cristãs, a consequência ética máxima da fé em Deus é o AMOR AO
PRÓXIMO. “Amarás o Senhor teu Deus …. e o teu próximo como a ti mesmo”. Quem é
membro de uma comunidade cristã conhece esse Grande Mandamento (Mateus
22.36-40) e com ele concorda.
Penso que não há dúvidas em relação a essas duas
constatações: 1) Cremos em Deus. 2) Queremos praticar o amor ao próximo. Mas,
eis que surge a GRANDE PERGUNTA: Por que essa sociedade tão religiosa e tão
cristã não consegue influenciar sua prática política com o amor ao próximo que
enaltece como consequência ética máxima da sua fé? Por que a sociedade
brasileira, depois de 500 anos de religiosidade intensa, continua dividida em
centro e periferia, em “bairros nobres” e favelas, em luxo e lixo, em
desperdício e carência, em pessoas privilegiadas e pessoas excluídas? Por que
continua sendo uma das sociedades mais injustas do mundo? PIOR: Como explicar
que qualquer projeto de INTERMEDIAÇÃO POLÍTICA DO AMOR AO PRÓXIMO é logo
apontado raivosamente como coisa de COMUNISTAS?
Quando o Rio Grande do Sul contava com 70% de analfabetos, e
Brizola mandou erguer milhares de pequenas escolas primárias, por amor às
crianças analfabetas, ele logo foi insultado como comunista, especialmente
pelas pessoas piedosas e “fortes na fé”. Quando João Goulart queria fazer as
Reformas de Base, com o fim de melhorar a vida de milhões de brasileiros/as,
ele foi derrubado com um golpe e teve de fugir, apontado como comunista. E
muitos cristãos aplaudiram o golpe.
O Projeto Mais Médicos (uma prática de amor que beneficia
50.000.000 de pessoas), é apontado como coisa de comunistas.
Uma Reforma Agrária, com acesso à terra para famílias pobres
(antes expulsas do campo, aos milhões, através da concentração das terras), é
odiada como coisa de comunistas.
Matar em média dez jovens negros, todas as noites, isso
pode! “Bem feito. Vagabundos. Bandido bom é bandido morto. A culpa é deles” –
dizem muitas cristãs e muitos cristãos.
Intermediar o amor ao próximo, na forma de cotas, para
jovens negros, excluídos durante séculos, para que encontrem finalmente uma
chance de vida? “Nunca! Coisa de comunistas” – dizem pessoas que invocam Deus e
pregam o amor!
Crianças que morrem de fome? “A culpa é dos pais! São pobres
porque não tem fé” – proclamam cristãos, especialmente os bem piedosos.
Matar um milhão de indígenas a cada século, sem nunca parar, até os dias de hoje, em disputa pelas terras? (Coisa normal, graças a deus, deus no comando, em nome de deus, deus sabe o que faz, deus te abençoe, o amor é que vale, o amor é tudo, deus é fiel). Devolver aos indígenas um milésimo das terras que lhes foram roubadas, para que possam viver? Jamais! Coisa de comunistas! O fato de 6 famílias possuírem riqueza igual a 50% da população parece não irritar muita gente. Mas qualquer projeto de socializar as fantásticas riquezas da natureza brasileira é vista como coisa condenável, coisa de comunistas.
Eu não vou concluir que nós cristãs e cristãos somos pessoas
especialmente más. Não! Não somos nem melhores e nem piores que outras pessoas.
Queremos praticar a nossa fé e viver a ética do amor ao próximo. Há muitos
exemplos elogiáveis de amor e solidariedade, de pessoa para pessoa, de
indivíduo para indivíduo, de apoio a instituições filantrópicas. O problema
começa quando se trata de INTERMEDIAR O
AMOR ATRAVÉS DA POLÍTICA. É aí que a porca torce o rabo e a vaca vai pro brejo,
com corda e tudo. É aí que tudo se confunde e o ódio toma conta.
Onde está o problema? O problema é nossa resistência a duas
análises: 1) Não queremos analisar e compreender a realidade social em que
vivemos. 2) Não queremos analisar o perfil do Partido Político em que votamos.
Não me refiro às promessas dos candidatos que sempre prometem trabalhar para os
pobres. Refiro-me ao perfil dos seus PARTIDOS.
Preferimos dividir as pessoas em boas e más, colocar-nos no
lado dos bons, condenar os pobres e classificar de comunistas quem faz projetos
políticos para integrá-los. Mas só conhecendo o partido, e qual a classe social
que representa, qual o modelo político que quer implantar, somente então
saberemos como melhor viver nossa fé na nossa prática política e como viver a
ética cristã do amor ao próximo dentro da nossa realidade. Só faz boa colheita
o colono que conhece sua roça. Só conseguiremos praticar a INTERMEDIAÇÃO
POLÍTICA DO AMOR quando conhecemos a história do nosso País, a realidade social
em que vivemos, a classe social que cada partido representa e o programa de
governo que vai implantar.
Então, sim, poderemos engajar-nos na prática de um amor ao próximo corajoso, amplo, transformador, com resultados sociais positivos e que melhora a qualidade de vida das pessoas que foram empurradas para a margem. Caso contrário perigamos pregar amor mas praticar desamor, com a melhor das intenções. E seremos cristãos piedosos, mas seremos maus cidadãos. Já dizia minha mãe: “Quem não conhece o lugar onde bota os pés vai derrubar com a bunda o que tenta construir com as mãos”. Que grande sabedoria! Quando nos negamos estudar a realidade social em que vivemos; quando nos negamos estudar o perfil dos partidos políticos que votamos, podemos tornar-nos cruéis negadores da fé que proclamamos; podemos tornar-nos violentos destruidores do amor que tanto exaltamos. Além disso, podemos tornar-nos ridículos, porque denunciaremos como comunistas aqueles que realizam corajosamente o que nós pregamos, mas que não queremos realizar. Não porque somos maus, não porque cremos pouco, não por falta de fé e de religião, não porque não queremos amar, mas porque não fazemos análise da realidade em que vivemos.
Então, sim, poderemos engajar-nos na prática de um amor ao próximo corajoso, amplo, transformador, com resultados sociais positivos e que melhora a qualidade de vida das pessoas que foram empurradas para a margem. Caso contrário perigamos pregar amor mas praticar desamor, com a melhor das intenções. E seremos cristãos piedosos, mas seremos maus cidadãos. Já dizia minha mãe: “Quem não conhece o lugar onde bota os pés vai derrubar com a bunda o que tenta construir com as mãos”. Que grande sabedoria! Quando nos negamos estudar a realidade social em que vivemos; quando nos negamos estudar o perfil dos partidos políticos que votamos, podemos tornar-nos cruéis negadores da fé que proclamamos; podemos tornar-nos violentos destruidores do amor que tanto exaltamos. Além disso, podemos tornar-nos ridículos, porque denunciaremos como comunistas aqueles que realizam corajosamente o que nós pregamos, mas que não queremos realizar. Não porque somos maus, não porque cremos pouco, não por falta de fé e de religião, não porque não queremos amar, mas porque não fazemos análise da realidade em que vivemos.
Repasso: Post do
Pastor Sílvio Meincke!
Silvio foi pastor da
IECLB em Santa Catarina e São Leopoldo. Hoje mora na Alemanha.
*Boa reflexão para o
Domingo!!!*. Boa reflexão para o Brasil Cristão... em ano de eleições!!!.
(Fonte: CEBI)